quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Pôr do sol

Eu posso lutar contra várias coisas. Eu posso, de verdade. 
Nem é balela, ou auto-promoção, é apenas o que eu sei.
Não tenho medo (na maioria dos casos, mas o meu vaso é sempre outra coisa) e não me falta coragem. Às vezes, seria até mais fácil (cômodo, traduzindo) se faltasse.
Eu posso lutar contra a ânsia, o mau humor, uma dor de cabeça, ou um barulho irritante. Eu posso lutar contra o livro chato, mas necessário, um dia baunilha, mas superável, ou uma conversa sacal, mas inevitável.
Eu posso fazer isso. Eu posso e consigo. Nem é difícil. Meta, foco, ideal, sonho, utopia, escolhe a tua porta.
Algumas doses de boa-vontade, persistência e ausência de vergonha na cara, é a receita que está na minha agenda, e que eu decorei há tempos.
Posso lutar contra mim mesma, até. Meus medos, minhas crenças, minhas vontades. Não digo que é fácil, digo que posso. Posso evitar, ignorar, esquecer, relegar, lembrar, cuidar, cultivar. Posso respirar fundo pra dissipar a confusão, impedir uma vontade indesejável que teime em crescer, segurar o medo do que vem com o fim da esquina, até seguro o sentimento de falta, como quando não tem o sal do arroz ou fica um incomôdo no final do filme. E ainda que eu não acredite em não-pensar, eu posso evitar certos pensamentos, sentidos e emoções.
Eu posso lutar e lidar com tudo isso, e nem me causa muito dano. No máximo, uma dor de cabeça e uma tensão no ombro, pelo esforço. Outras vezes, até mais, porém resiliência é a palavra.
O que está além do que posso é o que me incomoda, me irrita, leva o meu olhar pra longe e a minha mente pro espaço. 
Sabe aquelas coisas que estão completamente fora do alcance da tua mão? Que não dependem em nada de ti? São contra essas coisas que eu não posso lutar. Não porque eu não queira, mas, porquê, como eu disse antes, não dependem de mim. Eu posso lutar com o melhor de mim, mas não posso impedir que a campainha toque em outra porta.
Se dependesse da minha armadura e da minha espada, era simples, em termos. Segue reto, anda duas quadras, dobra à esquerda no sinal, até chegar na grande placa brilhante.
Eu posso lutar e ignorar as nuvens, mas como impedir um pôr-do-sol?

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