Hoje é o mês. O dia não interessa. Ano nem pensar. Fique sabendo que eu nunca fui assim ríspido. Aconteceu. Foi sem querer, tentando me aproximar da vida, e ela, senhora de si, sempre me dando as costas. Até que um dia aconteceu. Ainda se fosse a morte!… Mas eu enganei nada mais nada menos que a vida.
Bem feito pra ela. Perdeu o melhor de mim. Esse cara que virou tão sozinho, que o vaso sanitário tornou-se o melhor amigo; Que o guarda-roupas dava bom dia; Que a porta acenava; Que a vidraça tremia só de vê-lo pelado depois do banho…
Você acha esquisito alguém contracenar com mobílias? É porque não viu o tio Aroldo que fez sexo com um sofá e jurava que as almofadas tinham a sua cara.
Não me venha, vida, dar um sermão uma hora dessas. Eu avisei. Avisei ainda quando acreditava em você. Quando éramos juntos. Tão juntos como a outra lá – que Deus não a tenha – que quando estávamos, nós nos bastávamos. Não precisava auxílios externos. Eu não necessitava nem de punheta.
Eu grudei a vida na parede. No meio do melhor dos meus pôsteres, no meio do melhor dos meus livros, só para vê-la dormindo, acordando, vivendo. Sabe o que ela fez? Disse: vou ali e já volto.
Nunca mais apareceu. Se bobear, perdeu o endereço.
Mas até é bom. Creio que eu não queira ver uma vida que já foi minha voltando para mim. Se saiu, foi por conta própria. Não forcei a nada.
Suicídio? Nunca a ameacei. Nunca a tentei contra sua vontade constante de viver.
Tive momentos deslumbrantes com ela. Alguns, vá lá, inesquecíveis. Mas fechou-se o ciclo. A circunferência que nos levava ao encontro um do outro cedeu e eu já não preciso mais dela.
A vida morreu. E eu estou bem tranquilo.
Quem quis assim foi ela.
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